sexta-feira, março 30, 2007

Dez grãozinhos de terra que Deus botou no meio do mar



Os “dez grãozinhos de terra que Deus botou no meio do mar ” - ali entre o Senegal e as Caraíbas - como canta a morna, dir-se-ia que cumpriram ao longo destes 5 séculos de história uma missão discreta, quase secreta: preparar um povo para o advento do Turismo. Parcas em chuva, desprovidas dos recursos naturais que fizeram de tantos outros recantos suculentos paraísos, de cuja flora pendia o alimento, enriquecido pela fauna que sob as suas copas buscavam protecção, estas ilhas, outrora liber tas das entranhas de um mar que, cioso da sua primazia, quis espalhar as suas areias sobre as fraldas de terras acastanhadas ou agitar a sua espuma sobre caprichosas enseadas e desfiladeiros negros de basalto, encostaram a si próprios os homens e as mulheres que as povoaram, condenando-os a buscar no seu íntimo e na forja da sua relação mútua os ingredientes com que haveriam de construir a sua própria cultura e, desde logo, a ponte que os transpor taria a outros continentes e mares, semeando neles a curiosidade de conhecer e usufruir de um destino talhado para o fenómeno dos nossos dias:o turismo. Pois não é o turismo, na sua faceta mais autêntica e profunda, a redescoberta de nós próprios, naquilo que de mais legítimo temos como humanos, num cadinho de autenticidade, de proximidade, como se, na busca desenfreada de um futuro mais-que-per feito desembocássemos num pretérito-per feito, sem stress, sem as roupagens que o consumo impõe, enfim, sem enfeites mas na presença do simples, do essencial? Cabo Verde é isto, como destino turístico: mais que óptimos hotéis, um serviço sofisticado, um comércio reluzente ou uma vida social intensa, ali vai encontrar a simplicidade, a descontracção, o calor humano, emergindo ao lado de um mar delicioso, sob um sol que acalenta mas não abrasa, embuído no per fume das frutas tropicais sobre as escarpas de uma natureza seca, mas macia... in ...?