quarta-feira, fevereiro 27, 2013

O GOLPE DA BARRIGA

O GOLPE DA BARRIGA NO ALCANCE DA PENSÃO ALIMENTÍCIA

O “golpe da barriga”, também conhecidíssimo como “golpe do baú”, sempre foi assunto antigo e comum. É muito utilizado seja para segurar um sujeito num casamento arranjado, quase que forçado (agarrando o bode pelo chifre) ou, simplesmente, para conseguir arrancar uma pensão (de preferência muito polpuda), que vai proporcionar tempos tranquilos para despesas extras. A gravidez é constantemente usada como vantagem financeira para a obtenção da pensão alimentícia.
Isso, todo mundo sabe, ou pelo menos, deveria saber.
O que muita gente não tem conhecimento é que existem algumas leis recentes que favorecem, em muito, este tipo de golpe. As leis, praticamente, institucionalizaram e legalizaram o golpe da barriga. O risco de sofrer desta má sorte ficou muito maior.
A quantidade de homens vítimas desta “maré de azar” é assustadora. São homens que levaram o tal golpe, e, agora, não sabem o que fazer. Este fato denuncia a falta de conscientização dos homens sobre o assunto, resumida em dois grandes pontos cruciais: a falta de conhecimento sobre a legislação e o excesso de confiança na companheira.

 Infelizmente, não há muito que fazer para ajudar esses vitimados homens quando a corda já se arrebentou (quando a sementinha já foi plantada). No caso deles, resta tentar administrar o problema. Tentar pagar uma pensão menor, e prestar atenção em sinais de alienação parental.

Tudo isso leva a confirmar que o homem precisa se conscientizar do seguinte: ele é a parte mais frágil da relação. A justiça e as leis estão todas contra ele. Cabe ao mesmo se prevenir. Cabe ao mesmo fugir e evitar o tal golpe. Depois que do ato consumado, só restam os pêsames! Ninguém poderá ajudar. Nenhum juiz terá compaixão.
É necessário tomar cuidado com alguns fatores de risco:
1 – Métodos contraceptivos: Você é convencido a não usar a camisinha. São inventadas várias desculpas esfarrapadas. Algumas mulheres falam que a camisinha é incômoda ou que tomam, religiosamente, as tais pílulas anticoncepcionais. Tem aquelas que tentam, a qualquer custo, tirar sua camisinha durante a relação sexual (sem contar algumas sabichonas que, maquiavelicamente, as rasgam). Às vezes, o homem cai naquela de “quando eu for gozar, eu tiro” (aí está o cúmulo da burrice do homem).
2 – Bode expiatório: Ela engravida de outro. O autor da “barriga” some, e não assume a criança. No desespero, ela te chama para fazer aquele sexo casual. Vocês transam sem camisinha e você se transforma, como num “passe de mágica” no pai do ano. 
3 – Retorno surpresa: Ela namorava você. Vocês terminaram. Ela arruma outro e tem um lindo filho com ele. Depois, reaparece (do nada) para você. Chorando (lágrimas de crocodilo), inventa que você a abandonou grávida. E agora? Os bons de coração assumem a paternidade de imediato. A pergunta é: Você é bom de coração?
4 – Mãe solteira: Vocês começam a namorar e ela já tem um filho. Vocês iniciam uma união estável. Depois, vem a tal separação. Em sua opinião, qual seria a primeira reação dela? E ela vai requerer a pensão para o filho na justiça, é lógico!
5 – Ricardão Jr: Vocês são casados e nem paira aquela leve desconfiança de que a “bonitona” é adultera. Você acaba acreditando que o filho que nasceu desta união linda e feliz é seu, acreditando ser desnecessário, o pedido do exame de DNA. Os anos se passam e você descobre, muito tardiamente, que o filho não tem nem o branco do olho parecido com você, levantando graves suspeitas de que o filho não é seu. Pior de tudo é que a justiça dificilmente admitirá que você desfaça o bendito reconhecimento de paternidade. Entende-se, nesses casos, que pai é justamente aquele que registra a criança.
7 – Pós-transa: Ela pega a camisinha usada e engravida usando aquele sêmen!!! Já ouviu falar em auto inseminação? Está na moda ultimamente. É um método que está sendo muito utilizado pelas golpistas de plantão.
Enfim, são inúmeras as formas de concretização do golpe da barriga e muitas mulheres se dão muito bem com elas. São mulheres incompetentes e covardes que buscam relacionamentos para engravidar por interesse financeiro pelos direitos legítimos dos filhos e depois correr para a Justiça, se beneficiando da visão antiquária de alguns Magistrados, para conseguir liminarmente vantagem financeira e patrimonial.
Cabe ressaltar que, evidentemente, a maioria das mulheres que buscam as Varas de Família é por motivo justo, visando garantir o direito de seus filhos, contra aqueles homens que deixam de cumprir com o seu dever paterno. O que não pode acontecer é a padronização das decisões de modo que venha a favorecer litigantes de má fé e desclassificar o homem na busca de seus direitos enquanto pai.
É dever dos Magistrados, principalmente, das Varas de Família atentarem para as consequências que suas decisões podem provocar, envidando esforços para evitar uma visão ultrapassada, tendo em vista que não é somente a mãe que sabe por que o filho está chorando. Além do mais, o homem (sexo masculino) é um ser humano como qualquer outro, dotado de sentimentos, de necessidades materiais e de seus direitos como cidadão, por isso, é necessário, definitivamente, por fim a visão equivocada de que ao homem resta apenas o dever de pagar a tal PA (pensão alimentícia). in: http://sheyla-veras.blogspot.nl/2011/10/o-golpe-da-barriga-no-alcance-da-pensao.html

Joaquim Sustelo - Lancamento Poesias das Lagrimas

Encontramo-nos hoje aqui reunidos na apresentação do 1º livro de poesia da nossa amiga Glória Monteiro.

A Glória  é uma jovem que tenho o prazer de conhecer poeticamente através de um Grupo que criei na Net, há uns anos e que tem por nome Horizontes da Poesia.Ela entrou para o Horizontes em 23 de Novembro do ano passado, pelo que faz amanhã três meses que conheço a sua forma de escrever poesia.

Ora, o que é a Poesia? Todos sabemos, mas como defini-la?

Poesia, não tem definição. Ou talvez se possa dizer
que


e esta definição é minha.

Mas a melhor definição de poesia que vi até hoje, foi da minha amiga poetisa Landa Machado, em 2007, que acho uma maravilha (ela não achava rsrsr) e que peço licença para dizer aqui:


Poesia


Poesia não tem definição...
É tudo aquilo que nos toca a alma
Folha que o vento leva em turbilhão
As cores dum poente em tarde calma

 
Um pássaro que esvoaça em pleno céu
Um barco que navega pelo rio
A brancura da neve como véu
Envolvendo em silêncio um dia frio
Poesia é um rosto puro de criança
Um aceno de mão cheio de esperança
Um gesto que nos mostra amor... bondade...
 
Poesia,  é a tela de um pintor
Um botão a abrir-se em plena flor
Ou lágrima num rosto sem idade
 
Landa Machado
Lisboa, 22 de Março de 2007
Em “PARA ALÉM DO HORIZONTE…”


Poesia é tudo isto. E tem uma particularidade: não convém que seja muito descritiva. Torna-se mais bonita com o uso de metáforas, isto é, empregando palavras em sentido figurado, ou  substituindo palavras por outras que tenham uma comparação com elas subentendida.

Ora, a nossa Glória, é ainda uma jovem. E tem – dizia-me ela há dias – alguma dificuldade no português, por ser natural de cabo Verde e falar crioulo (Língua de base lexical portuguesa, falada em Cabo Verde, que engloba diferentes variedades.)

Mas isso não importa para um poeta, pois há formas de ultrapassar a situação, como sabemos. O mais difícil, sim, é ter um espírito poético e saber empregar a linguagem metafórica, oferecendo ao leitor imagens de grande beleza. E esta parte, a Glória sabe fazê-lo muito bem.
Atente-se nestes exemplos:

1.     No poema GRITAR O MEU NOME ela escreve:

“Vesti das nuvens para te fazer sorrir
Engoli toda a luz
Para te fazer brilhar com os meus beijos

Roubei arco iris para te colorir de alegria
Abandonei meu sorriso no infinito…

Bebi toda a água da tua alma
Para não te cair nenhuma lágrima

2.   No poema MÃE cria estas imagens  lindíssimas:

Mãe é uma flor,
Regada de astros

É um cobertor
Derramando luz

3.   No poema CARÍCIA diz-nos:


Resido no teu olhar vivo
Onde apenas sangue se comunica

A delícia do teu falar calórico
Enche meu coração de grandeza.


E mais exemplos poderia dar, apesar de ainda lhe conhecer tão poucos poemas.

Glória, neste dia tão importante para ti, vim aqui para te parabenizar por este espírito tão bonito que vislumbrei desde que entraste para o Horizontes da Poesia. E não fui só eu, já que tens lá muitos comentários de poetas e poetisas que se deliciaram com a tua forma de escrever.

Parabéns por este teu filho-livro que, por experiência, sei o quanto nos alegra vê-lo nascer. Desejo-te os maiores sucessos com ele!

Ninguém sabe o que a vida nos reserva. Mas peço para ti uma vida plena de amor, saúde, alegria e imenso sucesso neste mundo onde em boa hora decidiste entrar. Conta comigo para o que estiver ao meu alcance!

Por último, parafraseando um verso teu “Só vim aqui para ouvir… e gritar também o teu nome.”

Felicidades.

Joaquim Sustelo

Mario Matta e Silva - Apresentacao -Poesias das Lagrimas

GLÓRIA SOFIA VARELA MONTEIRO, nascida em 14 de Fevereiro de 1985, tendo completado este mês, precisamente no dia dos namorados, 28 anos.
Nasceu na cidade da Praia em Cabo Verde e depois de terminar o liceu foi viver para os Açores, onde se licenciou em Engenharia e Gestão do Ambiente. Actualmente prepara o mestrado em Gestão e Conservação da Natureza. Reside presentemente na Holanda.
Colabora no jornal Liberal on-line, de Cabo Verde e noutros sites de poesia.
De uma personalidade dinâmica e criadora evidencia uma sensibilidade muito profunda que se reflecte nas mensagens poéticas que constrói, e que, neste livro, deixa para a posteridade.
Lutando pelos valores e pela cultura africana dinamiza o movimento Pró-África, na Holanda.
Em Portugal viveu os seus tempos de mulher adulta, debatendo-se com várias contrariedades entre elas a falta de perspectivas de emprego que a levou a emigrar. Na cidade da Amadora frequentou a Tertúlia Poética, Sempre Acontece Poesia, onde trocou saberes e angariou simpatia.
Da poesia que nos deixa neste seu primeiro livro POESIA DAS LÁGRIMAS, grava o amor, a angústia, e até a revolta, sem esquecer porém o trilho da esperança que percorre com ânimo e fé.
A beleza das palavras de cada verso, estrofe ou poema reveste-se de um deslizar  de lágrimas sentidas que nos toca a todos como seus leitores.
A esforçada teimosia que Glória impôs a si mesma e ao Mundo que a rodeia, para “parir” este outro acarinhado filho, dá-nos a oportunidade de estarmos aqui, perante ela, numa demonstração de calor e de afectos. Os meus parabéns Glória. 22 de Fevereiro de 2013 - Professor Mário Matta e Silva

Video Lancamento do Livro poesias das Lagrimas





sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Cartas a um jovem poeta

Paris, 17 de fevereiro de 1903
Prezadíssimo Senhor,

Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e amável confiança.
Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal-entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizívies quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, — seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.

Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria, somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com a maior clareza no último poema Minha alma. Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema A Leopardi talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando da licença que me deu de aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas deste longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, — o único existente. Também, meu prezado Senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha significar que o Senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e a sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.

Mas talvez se dê o caso de, após essa decida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o Senhor de renunciar a se tornar poeta. (Basta como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo). Mesmo assim, o exame de sua consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.

Que mais lhe devo dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha. Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com discrição e gravidade ao termo de sua evolução. Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.

Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Horacek; guardo por este amável sábio uma grande estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste meu sentimento. É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.

Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente. Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança. Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de estranho.
Com todo o devotamento e toda a simpatia,


 

Rainer Maria Rilke
nasceu em Praga no dia 4 de dezembro de 1875. Depois de viver uma infância solitária e cheia de conflitos emocionais, estudou nas universidades de Praga, Munique e Berlim. Suas primeiras obras publicadas foram poemas de amor, intitulados Vida e canções (1894). Em 1897, Rilke conheceu Lou Andreas-Salomé, a filha de um general russo, e dois anos depois viajava com ela para seu país natal. Inspirado pelas dimensões e pela beleza da paisagem como também pela profundidade espiritual das pessoas que conheceu, Rilke passou a acreditar que Deus estava presente em todas as coisas. Estes sentimentos encontraram expressão poética em Histórias do bom Deus (1900). Depois de 1900, Rilke eliminou de sua poesia o lirismo vago que em parte lhe haviam inspirado os simbolistas franceses, e, em seu lugar, adotou um estilo preciso e concreto, que podemos perceber em O livro das horas (1905), que consta de três partes: O livro da vida monástica, O livro da peregrinação e O livro da pobreza e da morte. Esta obra o consolidou como um grande poeta por sua variedade e riqueza de metáforas, e por suas reflexões um pouco místicas sobre as coisas.

Em Paris, em 1902,
Rilke conheceu o escultor Auguste Rodin e foi seu secretário de 1905 a 1906. Rodin ensinou o poeta a contemplar a obra de arte como uma atividade religiosa e a fazer versos tão consistentes e completos como se fossem esculturas. Os poemas deste período apareceram em Novos poemas (2 volumes, 1907-1908). Até o início da I Guerra Mundial, o autor viveu em Paris de onde realizou viagens pela Europa e pelo norte da África. De 1910 a 1912 viveu no castelo de Duíno, próximo a Trieste (agora na Itália), e ali escreveu os poemas que formam A vida de Maria (1913). Logo após iniciou a primeira redação das Elegias de Duíno (1923), obra esta em que já se percebe uma certa aproximação dos conceitos filosóficos existenciais de Soren Kierkegaard.

Em sua obra em prosa mais importante, Os cadernos de Malte Laurids Brigge (1910), novela iniciada em Roma no ano de 1904, empregou imagens corrosivas para transmitir as reações que a vida em Paris provocava em um jovem escritor muito parecido com ele mesmo.

Residiu em Munique durante quase toda a I Guerra Mundial e em 1919 mudou-se para Sierra (Suíça), onde se estabeleceu para o resto de sua vida, salvo algumas visitas ocasionais a Paris e Veneza, concluindo as Elegias de Duíno e escreveu Sonetos a Orfeu (1923). Estas obra são consideradas as mais importantes de sua produção poética. As Elegias representam a morte como uma transformação da vida e uma realidade interior que, junto com a vida, foram uma coisa única. A maioria dos sonetos cantam a vida e a morte como uma experiência cósmica.
Rilke morreu no dia 29 de dezembro de 1926 em Valmont (Suíça).
Sua obra, com seu hermetismo, solidão e ociosidade, chegou a um profundo existencialismo e influenciou os escritores dos anos cinqüenta tanto na Europa como na América.

Texto extraído do livro "Cartas a um jovem poeta", tradução de Paulo Rónai, Editora Globo – Rio de Janeiro, 1995.



segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Por que as mulheres negras são minoria no mercado matrimonial

O presente estudo aborda a desvantagem das mulheres negras no mercado matrimonial, analisando as causas e consequências deste fenômeno étnico e cultural. Essa reflexão é de fundamental importância quando pensamos na afetividade da mulher negra, que, desde os períodos coloniais, é explorada, violentada e desvalorizada esteticamente. Nos dia atuais, quando esta mulher busca um parceiro para manter uma relação fixa, na maior parte das vezes, não tem muitas opções de escolha e acaba tendo uma vida solitária. A desvantagem da mulher negra para a mulher branca nos índices de matrimônio é registrada em pesquisas demográficas.
por Clarice Fortunato Araújo,  Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC , no  XI Conlab
Alguns questionamentos surgem a respeito deste assunto: quais seriam os motivos que levam a população negra feminina ao celibato? Por que os homens negros escolhem ou preferem se casar com a mulher branca, ou mais especificamente com a loira? Quando é que a “solidão” da mulher negra não é resultado de uma escolha, mas sim falta de opção? E é na tentativa de refletir a respeito dessas questões que este trabalho é desenvolvido.
A oficialização da união é importante, não apenas por questões afetivas, mas, principalmente, por questões legais, como planejamento familiar, divisões de bens, entre outros. Ainda que a mulher, para ser feliz, não tenha que, necessariamente, se casar dentro dos padrões tradicionais, quando ela faz esta opção, a cor da sua pele não deveria ser uma desvantagem nesse processo.
Por mais inusitado e até constrangedor que possa parecer, a mulher negra é rejeitada não só pelos homens brancos, mas também pelos homens negros. Sim, eles preferem as loiras! Isso é fato comprovado estatisticamente em estudos, inclusive com depoimentos.
Há hipóteses de que os homens negros preferem as loiras porque elas são mais bonitas e “gostosas”, porém há também versões que apontam que são as mulheres brancas que preferem os homens negros, isso porque elas seriam menos racistas que os homens. O fato é que, como afirma Carneiro (1995), “as mulheres negras são, realmente, estética e socialmente desvalorizadas”.
leia o texto: Gênero, raça e ascenção social por Sueli Carneiro
Salvador é a maior cidade, fora do continente africano, que concentra a maior população de descendentes de africanos do mundo. De acordo com o último censo do IBGE, esta cidade apresenta uma população composta de 80% de habitantes negros e mestiços. Além disso, é inegável a confluência de culturas e povos diferentes que ali aportaram e se misturaram: descendentes de africanos, índios e brancos portugueses no período da nossa formação. A miscigenação, que é uma prática histórica e cultural presente desde a formação da sociedade brasileira, vem se realizando muito mais pela preferência afetivo-sexual dos homens negros por parceiras não negras do que o contrário, como indicam alguns estudos (PACHECO, 2008, p. 10).
Todavia, o problema se demonstra mais complexo e preocupante quando analisamos as consequências dessa rejeição à mulher negra. Além da população miscigenada estar em classes economicamente inferiores, a população de mulheres negras é a que apresenta o maior número de solteiras-sozinhas no país. Como aponta Hooks,
[…] Mais que qualquer grupo de mulheres nesta sociedade, as negras têm sido consideradas “só corpo, sem mente”. A utilização de corpos femininos negros na escravidão como incubadoras para a geração de outros escravos era a exemplificação prática da ideia de que as “mulheres desregradas” deviam ser controladas. Para justificar a exploração masculina branca e o estupro das negras durante a escravidão, a cultura branca teve que produzir uma iconografia de corpos de negras que insistia em representá-las como altamente dotadas de sexo, a perfeita encarnação de um erotismo primitivo e desenfreado. (HOOKS, 1995, p. 6)
Os únicos espaços em que a mulher negra não é minoria são aqueles onde predominam os serviços domésticos e subalternos – como nos tempos da escravidão –, tanto na sociedade como nas mídias. Nas novelas, os papéis oferecidos às negras são sempre os de serviçais; nas campanhas publicitárias, elas fazem propaganda de produtos de limpeza ou aparecem ao fundo, enquanto em primeiro plano aparecem algumas pessoas brancas, representando uma família feliz.
Leia Também: O amor tem cor?
Infelizmente, a célebre frase “Branca para casar, mulata para f…, negra para trabalhar” (FREYRE apud THEBALDI, 2011, p. 8) ilustra claramente a constituição de valores culturais fincados no patriarcalismo colonial, que traz a mulher branca como ideal de beleza e estigmatiza, de forma cruel, as mulheres negras, que são rotuladas como um instrumento de trabalho e diversão para o homem. De acordo com o “II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres” (SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, 2008, p. 172), a partir do racismo e da consequente hierarquia racial construída, ser negra passa a significar assumir uma posição inferior, desqualificada e menor. Já o sexismo atua na desqualificação do feminino.
É com esse contexto que a mulher negra tem que lidar, independentemente da classe social ou do grau de escolaridade. É nesta sociedade capitalista, que traz como ideal de beleza a mulher branca e magra, que se veste de acordo com as últimas tendências da moda, em que essa mulher negra está inserida. É nessa condição marginalizada que, além de lutar para sobreviver, para criar seus filhos, muitas vezes sozinhas, elas buscam espaço, visibilidade e dignidade.
Ela viu um anúncio da Cônsul para todas as mulheres do mundo… Procurou, não se achou ali. Era nenhuma. Tinha destino de preto. Quis mudar de Brasil; ser modelo em Soweto. Queria ser realidade… Disseram: Às vezes o negro compromete o produto. Ficou só. Ligou a TV. Tentou se achar algum ponto em comum entre ela e o free: nenhum. A não ser que amanhecesse loira, cabelos de Seda Shampoo mas a sua cor continua a mesma! Ela sofreu, eu sofri, eu vi. Pra fazer anúncio de free tenho que ser free, ela disse. (LUCINDA apud CARNEIRO, 1995, p. 544-545)
Mas o ideal de beleza, ditado pelas mídias de comunicação, não é cruel apenas com as mulheres negras, ele coloca todas as mulheres como objeto que se pode negociar e manipular. Por exemplo, quando uma propaganda é colocada num outdoor com uma modelo linda, branca e magra, com roupas e sapatos sofisticados, a mensagem que ela passa é: “se você for magra, comprar esta roupa, este sapato, esta bolsa, você vai ser poderosa e vai ter todos os homens aos seus pés”. A mensagem é recebida pelo público alvo e esgotam-se roupas, bolsas e sapatos, enfim, a mulher comprou a ideia de que consumindo esses produtos ela se tornaria poderosa. Acontece que se todas as mulheres pensarem assim, todas elas compram essa mesma ideia e, então, tornam-se iguais, padronizadas. E se elas estão iguais, os homens vão tomá-las por objetos, vão querer todas do mesmo modo, apenas superficialmente, pois se são exatamente iguais, qualquer uma serve. No entanto, os homens irão procurar mulheres diferentes para um relacionamento de verdade, aquelas que têm atitude e que não se deixam influenciar por tendências, enfim, mulheres que têm personalidade e estilo próprios. Para Carneiro,
Se partirmos do entendimento de que os meios de comunicação não apenas repassam as representações sociais sedimentadas no imaginário social, mas também se instituem como agentes que operam, constroem e reconstroem no interior da sua lógica de produção os sistemas de representação, levamos em conta que eles ocupam posição central na cristalização de imagens e sentidos sobre a mulher negra. Muito tem se falado a respeito das implicações dessas imagens e dos mecanismos capazes de promover deslocamentos para a afirmação positiva desse segmento. (CARNEIRO, 1995, p. 3)
As mulheres negras passam por essa ditadura duas vezes, já que, além de branca e magra, a mulher também tem que ter os cabelos lisos. As mulheres que se esforçam para se encaixar nesses padrões submetem-se a dispendiosos processos de alisamentos e cirurgias para apagar os traços que as caracterizam racialmente. Os homens, negros e brancos, só acham uma mulher negra bonita se ela se parecer com Camila Pitanga ou Beyoncé, e isso é querer descaracterizar a raça, porque ambas são mestiças com forte traços caucasianos.
Essa é uma questão muito delicada e não pode ser essencializada, pois a mulher tem todo o direito de intervir no seu corpo, ela pode usufruir de toda tecnologia para se sentir bem e melhorar sua autoestima; entretanto, o que não pode acontecer é a perda da essência e as referências raciais, tendo em vista que isso é entrar no jogo da padronização.
Do mesmo modo, muitos negros, marcados pela marginalização sofrida na pele e pela cor da pele, não querem ver sua raça perpetuada em seus filhos, assim optam pelo casamento inter-racial para branquear seus descendentes. Ao invés de escolher sua parceira pelo caráter, eles escolhem pela cor. É claro que existem muitos casos em que a união inter-racial é baseada tão somente no amor e respeito pelas diferenças e esses casais têm uma consciência das lutas raciais.
Sabendo que são múltiplos os porquês de os homens negros preferirem as brancas para casar, mas ainda na tentativa de entender esses motivos, trazemos a reflexão de Berquó:
[…] Deste ponto de vista, é de se estranhar que justamente as mulheres pretas que contam com um excedente de homens pretos, acabem por ter menores chances de encontrar parceiros para se casar […] o excesso de mulheres brancas na subpopulação branca deve levá-las a competir, com sucesso, com pardas e pretas, no mercado matrimonial. A mestiçagem vem aumentando no Brasil como atesta o crescente contingente de pessoas ditas pardas. Ela se faz, entretanto, muito mais à custa de casamentos de mulheres brancas com homens pretos do que o contrário. Ou seja, a mestiçagem tendente ao embranquecimento é mais acentuada por parte dos homens’[…] Tendo de enfrentar uma razão de sexos a elas desfavorável, as mulheres brancas devem competir, com vantagens, no mercado matrimonial com as pardas e as pretas, que contam com um excedente de homens dentro de seu próprio grupo. Isto explicaria também o elevado celibato da mulher preta, além de sua entrada mais tarde em união. (BERQUÓ, 1987, p. 45-46)
O historiador negro Joel Rufino dos Santos, no livro Atrás do Muro da Noite – Dinâmica das Culturas Afro-brasileiras, da Fundação Palmares, na tentativa desastrosa de explicar o motivo pelo qual os homens negros preferem as loiras, coloca a cor da pele como um fator desqualificante, e todas as mulheres como meros objetos de consumo: “A parte mais óbvia da explicação é que a branca é mais bonita que a negra […] Quem me conheceu dirigindo um Fusca e hoje me vê de Monza tem certeza de que já não sou um pé-rapado: o carro, como a mulher, é um signo (SANTOS; BARBOSA, 1994).
A resposta à equivocada tese de Rufino é dada, de forma brilhante, por Sueli Carneiro, em seu artigo intitulado “Gênero, raça e ascensão social”:
[…] Joel Rufino afirmará em relação à mulher branca: “O negro sempre que pode prefere a branca porque ela e mais gostosa. ‘Gostosa’ é uma categoria sexual socialmente construída: a pele clara, e mais que a pele clara, o cabelo liso prometem mais gozo que outros. A exaltação da beleza da mulher branca tem a mesma função justificadora neste caso da deserção de um determinado tipo de homem negro em relação ao seu grupo racial, sendo a mulher branca, como Joel afirma, mais bonita e mais gostosa, este homem negro encontrar-se “prisioneiro” da sedução das formas brancas, como os senhores de engenho seriam “cativos” da sexualidade transgressora de suas escravas. Mas, por outro lado, ao definir a mulher branca também como um objeto de ostentação social, Joel Rufino explicita o objetivo fundamental do seu texto: reivindicar para este tipo de homem negro, o mesmo estatuto de que desfruta o homem branco nossa sociedade. Para este homem negro, deixar de ser um pé-rapado em e “adquirir” uma mulher branca, significaria libertar-se da condição social de negro e colocar-se em igualdade em relação ao homem branco. É por pretender-se neste lugar que Joel Rufino, para sustentar suas bravatas, permite-se olhar para as mulheres do “alto” de sua hipotética supremacia de macho e tomá-las como Fuscas ou Monzas a sua disposição no mercado, tal como um senhor de engenho considerava e usava brancas e negras. (CARNEIRO, 1995, p. 3-4)
Rufino não está totalmente equivocado. É verdade que a mulher negra está fora dos padrões estéticos, e por isso há uma clara tentativa de se invisibilizar essa mulher. Isso fica claro quando analisamos a presença desta nas novelas, campanhas publicitárias, passarelas, nos cargos de chefia, na política e no mercado matrimonial.
Joel Zito Araújo, em seu artigo intitulado “O negro na dramaturgia, um caso exemplar da decadência do mito da democracia racial Brasileira”, fala da exclusão da mulher negra nas telenovelas no papel de protagonista, ainda que seja levantada a bandeira da democracia racial nesse veículo:
A telenovela, assim, ao não dar visibilidade à verdadeira composição racial do país, compactua conservadoramente com o uso da mestiçagem como escudo para evitar o reconhecimento da importância da população negra na história e na vida cultural brasileira. Pactua com um imaginário de servidão e de inferioridade do negro na sociedade brasileira, participando assim de um massacre contra aquilo que deveria ser visto como o nosso maior patrimônio cultural diante de um mundo dividido por sectarismos e guerras étnicas e religiosas, o orgulho de nossa multirracialidade. (ARAÚJO, 2008, p.4)
Considerada como uma forma de entretenimento para as classes mais pobres, isso por sua acessibilidade, a telenovela é, muitas vezes, tomada como referência. Essas pessoas marginalizadas, com o intuito de fugirem dessas condições que lhes são estrategicamente impostas, acabam por se espelharem nestas realidades maquiadas e elitistas representadas nas telenovelas. Quando a mulher se vê representada apenas como agentes dos serviços menos valorizados, acaba confirmando sua exclusão das estruturas de poder político e social. Segundo Araújo (2008, p. 3),
Se, durante todos esses anos, a mulher negra, essa minoria que sempre vive sob o domínio de um grupo formado por homens brancos ricos, representou papéis subalternos nas telenovelas ou mesmo, se interpretou personagens de “boazudas” ou “mulatas tipo exportação”, este estereótipo de mulher objeto se reproduz na sociedade.
Assim, não é de se estranhar que um estereótipo disseminado socialmente reflita-se tão diretamente na vida das pessoas. Também não é de se surpreender quando, mesmo uma pessoa tão “esclarecida”, como Joel Rufino, afirme que a mulher branca é mais bonita e mais “gostosa” que a mulher negra, afinal ele fala do alto da sua supremacia masculina. É alegando a feiura da mulher negra que o homem negro sente-se à vontade para casar-se com uma loira. E o homem branco só vê aquela como uma diversão, isso ainda se ela for mestiça, com traços aproximados do caucasiano.
Contudo, a solidão da mulher negra não é uma situação exclusiva da mulher negra brasileira. Uma reportagem da rede de tevê americana ABC News (2009) mostra um perfil atual de jovens mulheres negras que possuem dificuldades para encontrar parceiros, embora sejam independentes e bem sucedidas.
A reportagem traz números que impressionam: 42% das mulheres negras dos Estados Unidos nunca se casaram. Essa porcentagem é o dobro quando comparada a de mulheres brancas. Essa matéria causou tanta polêmica que a apresentadora Oprah Winfrey voltou a discutir o assunto no seu programa, que também teve muita repercussão.
A falta de homem bem sucedido disponível no mercado resulta no aumento do número de casamentos inter-raciais. Algumas populações afro-americanas resistem muito a essa mistura, por isso a polêmica em torno da reportagem da ABC News. Movimentos negros entenderam que Winfrey, ao encorajar o casamento inter-racial, deixou subtendido que não há negros bons, educados e inteligentes. Enfim, essa é uma longa e delicada discussão que inclui homens e mulheres de todas as raças e etnias.
Nos Estados Unidos e no Brasil, a situação da mulher negra é a mesma, embora, em virtude das diferenças socioculturais, não seja possível fazer tantas comparações sobre os motivos que levariam todas estas mulheres à solidão. Sim, aqui no Brasil, existem muitos negros bons, educados e inteligentes, entretanto, eles não estão disponíveis – estão casados com mulheres brancas. E, consequentemente, à mulher negra só parece caber o papel de amante, mãe solteira e solitária.
É de fundamental importância o desenvolvimento e aperfeiçoamento de ações afirmativas que mudem, de vez, a situação da mulher negra, mãe solteira, empregada doméstica, pobre, suburbana, cabocla, negra e mestiça; indivíduos que se deparam, cotidianamente, com situações de preconceito e subordinação por parte de uma elite branca, acostumada a apenas se ver e considerar os demais como invisíveis ou irrepresentáveis.
De acordo com Carneiro:
Ao politizar as desigualdades de gênero, o feminismo transforma as mulheres em novos sujeitos políticos. Essa condição faz com esses sujeitos assumam, a partir do lugar em que estão inseridos, diversos olhares que desencadeiam processos particulares subjacentes na luta de cada grupo particular. Ou seja, grupos de mulheres indígenas e grupos de mulheres negras, por exemplo, possuem demandas específicas que, essencialmente, não podem ser tratadas, exclusivamente, sob a rubrica da questão de gênero se esta não levar em conta as especificidades que definem o ser mulher neste e naquele caso. Essas óticas particulares vêm exigindo, paulatinamente, práticas igualmente diversas que ampliem a concepção e o protagonismo feminista na sociedade brasileira, salvaguardando as especificidades. Isso é o que determina o fato de o combate ao racismo ser uma prioridade política para as mulheres negras, assertiva já enfatizada por Lélia Gonzalez, “a tomada de consciência da opressão ocorre, antes de tudo, pelo racial”. (CARNEIRO, 1995, p.3).
A reflexão mais importante que fica é que a mulher negra precisa se libertar e celebrar essa liberdade, entendendo que são bonitas, atraentes, fortes, inteligentes e poderosas, mas esse poder e força estão
intrinsecamente ligados ao fato de ser mulher negra. E, como mulheres, merecem ser amadas e respeitadas, independentemente da sua cor.
Enfim, a mulher negra, que se sente no dilema de ser preterida, não tem que passar por um processo de embranquecimento para ser aceita. O que precisa urgentemente mudar é a cultura, pois esta não representa um povo e suas diversidades. Um país tão grande, plural e com realidades tão distintas não deve ser compreendido em um padrão colonialista, escravocrata e arcaico


Leia a matéria completa em: Por que as mulheres negras são minoria no mercado matrimonial - Geledés http://www.geledes.org.br/por-que-as-mulheres-negras-sao-minoria-no-mercado-matrimonial/#ixzz3fh1COnpR
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