sexta-feira, julho 15, 2022

Amarelo













































 “I have to change to stay the same” Willem de Kooning 

Amarelo forte, amarelo que cega-me, amarelo que quebra-me os olhos, amarelo que de qualquer maneira limpa as cinzas das lembranças, amarelo que fez-me lembrar que amava amarelo mas preferia usar azul, azul para encher-me os olhos de choros, azuis para encher-me o céu do peito, azul porque para mim era errado amar amarelo, era errado amar as minhas gargalhadas, era errado sorrir para o mundo, era errado tudo que tocava.

Eu quero correr pelo amarelo, dormir nesta cor de sol, quero abraçar o amarelo, quero casar de amarelo.

Fui para #kunstakademie e como eu ando sempre com amarelo radiante nos lábios, por momento o azul caiu na flor da pele, lembrei que vivi a vida toda no azul quando eu deveria claramente viver no amarelo. Dizem que fui forte, eu acho que fui doida ter andado quase 5 anos a estudar verdes, a resolver a cor da matemática, a morder os lábios na força física quando eu deveria entrar na casa dezena morando lá no amarelo, com as pessoas como eu, louca, doida, esquisitas, dramática, emocionada, oferecidas como disseram a vida toda. 

Eu entrei com amarelo trancado naquele músculo precioso que é preso em qualquer outra cor, sei lá ou talvez melodia. Preso em qualquer coisa e talvez pintada, “emborada” de azul. Levei quase 4 dezenas a ouvir o brilho afiado que feria-me o ser, o saber, a identidade, a musica e até o sexo, para hoje entrar no amarelo e saber que eu pertencia a sol que não queima, que não brilha, que não arde, que não machuca. Eu pertenci ao amarelo que deixava-me carente de romances, de risos escandalosos, de palavras fritas e negras. Passei 4 dezenas para saber que pertencia aquele mundo e hoje saber que aquele mundo não faz mais parte de mim. Eu não posso viver amarelo porque os meus filhos precisam de azuis. Azul és tu sistema, azul és tu que aprisionou-me nesta vida, azul és tu querido que obrigava a esconder-me o meu amor pelo amarelo. Azul eu continuo a escolher-te porque como diz o poeta: “eu pertenço ao amarelo mas tenho de caminhar para as linhas do azul para continuar a ser amarelo.


#kunst #handwerk #kunstakademie #Rotterdam