sábado, novembro 07, 2009

Estudo de Impacto Ambiental da apanha de areia em Cabo Verde



Apanha da areia: Estudo indica recurso a outras tecnologias construção no país
25 de Outubro de 2009, 16:28
Um estudo sobre o impacto da apanha da areia para a construção em Cabo Verde, apresentado ontem, 24, na cidade da Praia, chama a atenção para a necessidade de se apostar em outras tecnologias de construção.
Este estudo veio à luz do dia durante as jornadas técnicas da I Feira Internacional da Construção e Habitação (FICH).
O estudo, apresentado pelo professor universitário, geógrafo e ambientalista, José Maria Semedo, e pela engenheira, Glória Monteiro, aponta que, por ser a areia um dos principais recursos usados na construção em Cabo Verde, a sua extracção desenfreada tem causado não só a degradação do ecossistema e da paisagem do país, como também revelado a necessidade de se apostar no uso de outra matéria-prima na construção civil.
José Maria Semedo, na sua explanação, colocou tónica ainda na questão da “produção de inertes para construção civil, como uma outra problemática que também tem causado danos ambientais e que é preciso travar”.
Este ambientalista aponta assim que “a solução para a construção civil em Cabo Verde não devia passar pelo uso da areia e inertes” ao mesmo tempo que defende o uso de brita mecânica e da areia importada.
Com uma aposta em outras tecnologias de construção, mais baratas e mais eficazes, estar-se-ia não só a evitar a degradação do meio ambiente, como também contribuir para o abaixamento do custo habitacional que na opinião de Semedo é muito cara no país.
Por outro lado, alerta que mais do que importar tecnologias alternativas de construção mais baratas e eficazes para o país, é preciso que seja também considerada a dimensão sóciocultural quando se pensa na construção de habitações no país.
“Temos de ter também em conta que a casa não é só uma construção mecânica. Os locais onde as pessoas vão habitar, também contam. Há todo um padrão de construção que deve ser respeitado, como normas culturais, condições climáticas, do vento, da temperatura etc”, adverte José Maria Semedo.
O debate à volta da questão da apanha da areia suscitado pelas apresentações de José Maria Semedo e Glória Monteiro também apontaram para outras questões importantes.
Além do uso de tecnologias alternativas mais baratas, amigas do ambiente e eficazes para a construção no país, outros intervenientes realçaram ainda a precisão de se pensar no uso de produtos para construção de laboratório alternativos ao cimento e à areia, de energias renováveis como os sistemas solares, energia eólica e fotovoltaicas para preservar o ambiente, bem como reflectir a melhor arquitectura e quais os modelos de construção de casas que se adequam ao país.
O tema suscitou muita discussão e argumentos técnicos, nomeadamente, após a comunicação da engenheira Glória Monteiro ao indicar que a criação do emprego para as famílias pobres é um do impacto positivo da apanha da areia.
Nesta matéria, António Querido, na qualidade de “debatedor” da Jornada, lançou a interrogação se a apanha da areia no país tem sido uma questão de pobreza ou de oportunidade de negócio, o que suscitou várias outras intervenções.
O destaque das intervenções foi a de Vera Lúcia Figueiredo, técnica da Direcção-geral do Ambiente (DGA) que defendeu que a apanha da areia é mais uma oportunidade de negócios, principalmente, para os compradores.
“Alguns estudos já foram feitos e verificamos que as pessoas, sobretudo as mulheres, têm na apanha da areia, um segundo emprego, porque é mais fácil e dá dinheiro mais rapidamente”, afirmou. Perante isto fez o reparo de que a solução para isso perpassa pela aplicação da lei, criação de actividades alternativas de rendimento para as famílias que vivem da apanha da areia com devido seguimento.
No que toca à aplicação da legislação, a técnica defende ainda a necessidade de se regulamentar a lei existente para que a punição seja aplicada não só às pessoas que extraem, mas também ao comprador e ao consumidor final que utiliza a areia extraída ilegalmente.
Este esforço para fazer valer a lei tem sido feito pela DGA juntamente com outros intervenientes. Figueiredo admite que esta Direcção tem tido alguma dificuldade em conseguir fazer com os agentes das polícias marítima e civil assumam a responsabilidade de punir um crime ambiental.
Entretanto, para superar esta dificuldade, a DGA pretende levar a cabo, em 2010 e em parceria com Direcção da Polícia Nacional, uma acção de formação, destinada a todos os agentes policiais e guardas costeiras. O objectivo é capacitá-los para posteriormente ajudarem a DGA na resolução do problema da apanha da areia.

In Inforpress